As decadas
80 e 90 foram marcadas por uma forte recessão
na econômica mundial, que começou com a crise do petróleo na segunda metade dos
anos 70. Isso fomentou o surgimento de uma teoria na administração de empresas o qual
tinha como princípio fundamental uma total reestruturação organizacional , mudando-se
a forma de se realizar o trabalho e a estrutura hierárquica das empresas,
visando uma maior eficiência e uma redução de custos.
No tocante a estrutura organizacional, a teoria recomendava a redução dos níveis hierárquícos e uma maior horizontalização das relações de trabalho e com isso reduzir a burocracia que uma estrutura de várias camadas organizacionais pode causar. Dessa forma a empresa estaria reduzindo custos e se tornando mais agil e consequentemente mais competitiva.
No tocante
a forma de se realizar o trabalho, a teoria recomendava uma descentralização
dos processos, dando-se mais poder aos níveis mais próximos dos clientes
finais.
Nessa mesma
época,empresas como Microsoft, Sun e HP, se tornavam mais maduras e precisam se
estabelecer e ganhar mercado, mas em função da estagnação reinante, não
estavam obtendo o crescimento esperado , assim como toda a industria de TI.
A saída era
tomar mercado das empresas
estabelecidas.
A própria
IBM lançava, em fevereiro de 1990, a sua
família de computadores RISC, baseados em processadores PowerPC (hoje
servidores Power), para competir com SUN e HP, e também acreditando que esse
seria a sua nova galinha dos ovos de ouro , e que o ciclo do Mainframe realmente estava com os
dias contatos e era necessário investir na sua alternativa.
Lou
Gestner, gerente geral da IBM mundial, no seu livro Quem disse que os elefantes não dançam , reconhece que acreditava que o novo cenário
de computação não mais tinha espaço para o Mainframe.
Os únicos
que ainda acreditavam que o Mainframe não tinha acabado e que poderia fazer parte desse
novo ciclo tecnológico eram as divisões de Mainframe da IBM, por razões óbvias, alguns
grandes clientes que realmente entendiam o seu valor e não viam possibilidade
de as novas plataformas sustentarem o seu negócio e alguns apaixonados pela plataforma, dentro e fora da IBM, que se mobilizaram para tentar reverter esse quadro,
chamando atenção do mercado e da mídia para os erros de avaliação que estavam sendo
feitos.
A
existência de diversos tamanhos e arquiteturas de computadores não era
novidade, nos anos 70 também haviam distintas famílias, de todos os portes, tecnologias e fabricantes, mas não ocorreu
nenhuma guerra entre plataformas, pois a economia mundial estava aquecida e o
mercado de informática estava em franco crescimento, com espaço para todos.
Estavam aí
os ingredientes necessários para se atacar a IBM e particularmente o seu segmento
mais rentável, que era justamente o Mainframe e porque este representava um
modelo totalmente contrário a teoria em expansão. O Mainframe era a base de um modelo
computacional centralizado assim como a sua estrutura de custos, o que o
tornava um alvo fácil para os adeptos do DOWNSIZING .
E assim
foi. Como num grande movimento de conspiração, na calada da noite, a industria
de TI e as grandes empresas de
consultoria , as então chamadas Big Five,
desferiram um ataque ao mercado de Mainframe com o objetivo de roubar market share desse. Era a pratica de uma velha estrategia, se o
bolo não cresce, o jeito é roubar do bolo do vizinho.
Essa era a
forma que encontraram para ampliar seus negócios e fizeram um plano muito bem
arquitetado para destruir a imagem que o Mainframe detinha no mercado.
A teoria do
Downsizing foi usada para atacar a base de clientes, sob o argumento de redução
de custos e aumento de produtividade com a implementação dos PC’s , num
primeiro momento, e das redes locais , num segundo momento.
Como alternativa
aos Mainframes, recomendava-se o uso de servidores Unix ou Windows, de menor porte, mais baratos, mais fáceis de
operar , mais flexíveis e de maior Time to Value, organizados na forma
de Cliente/Servidor, modelo
computacional surgido no inicio dos anos 90, que tinha como principio a
organização dos computadores em rede,
onde os computadores de uso pessoal eram os clientes dos servidores
departamentais, de maior porte, e especializados por tarefa.
Essa
estrategia ganhou o mundo após artigo publicado na revista americana InfoWorld,
em Março de 1991, assinado pelo seu editor chefe, Stewart Alsop, anunciando a
morte do MF, e que o último seria desligado em 15 de Março de 1995.
Estava
decretada a morte do Mainframe e com data marcada.
É claro que
o movimento do Downsizing era sustentado por alguns fatores teoricamente convincentes, mas o principal
deles se sustentava no fato de que nenhuma outra tecnologia durará por tantos
anos, e era ‘lógico ‘ que o Mainframe, após
cerca de 30 anos de existência estava com o seu prazo de validade vencido.
Há de se
perguntar onde estava a IBM nesse
momento e qual foi a sua reação a esse movimento. É preciso reconhecer que a própria IBM
acreditava que o ciclo de vida do Mainframe havia se encerrado, novas tecnologias
haviam surgido durante esse tempo, o
mercado e o mundo corporativo haviam mudado e requeriam outras soluções para a
sua TI, mais baratas e ágeis.
Nessa época
a IBM era presidida por Lou Gestner, que havia assumido a função no ínício de
1993, vindo da indústria de alimentos, tendo como principal missão salvar a empresa da eminente falencia, tinha pouco conhecimento
do mercado de TI e principalmente da importância do Mainframe para a receita da IBM.
Sendo
assim, a IBM se juntou aos demais fornecedores da industria e aceitou a ideia
da obsolecência do Mainframe e que novos investimentos deveriam ser orientados nos
servidores de pequeno e médio porte , principalmente da família Unix, cujo
mercado crescia a taxas muito aceleradas.
O
downsizing fez um estrago enorme na IBM , que levou algum tempo para entender o
tamanho do prejuízo e se recompor.
SUN HP e Microsft atingiram o processamento corporativo,
através dos sistemas ERP’s ,
Telefonia
móvel e outras tantas soluções de prateleira disponiibilizadas por um sem
numero de desenvolvedores independentes (ISV’s) dispostos a
substituir o legado de aplicações Mainframe.
Essa não
foi a primeira que na historia dos computadores se estabelece uma luta entre
plataformas. Nos anos 70, quando a IBM
já dominava o mundo com a família S/360 e seus sucessores, surgiram várias
empresas com modelos denominados mini-computadores, como a DEC (Digital
Eletronic Computer), a mais forte entre elas , mas também Data General, HP, Olivetti,
entre várias outras. Somente após estabelecido esse mercado com
crescimento de 30% ao ano, é que a IBM
decidiu entrar e criou o seu Sistema /32.
Mas em
nenhum momento criou-se um ambiente de competição entre plataformas e
fornecedores, acreditava-se que havia espaço para todos e um não interferia no
mercado do outro . A razão para essa
passividade talvez se explique pelo fato de haver mercado para todos. O mercado era maior do
que a capacidade de produção de todos os fornecedores juntos.
Nos anos 90
a luta entre as plataformas foi diferente, para uma crescer , ou apenas se
manter, tinha que tirar mercado da
outra. O mercado não crescia na mesma
taxa que as empresas necessitavam para manter sua operação.
Principais
motivadores do DOWNSIZING e algumas considerações :
. O último MF vai ser desligado em 1995
Stewart
Alsop, editor da renomada revista americana InfoWorld, escreve artigo sobre o Downsizing, anunciando
que o último MF seria desligado em 15 de Março de 1995. Isso ajudou a desencadear uma corrida para as
empresas desligarem o seu MF. Nenhum CIO queria ser o último. Criou-se o slogan ‘ você já desligou o
seu MF hoje ?
. MF é
tecnologia velha
Os anos 90
viram acontecer grandes modificações na informática, surgiram as redes locais, os sistemas
baseados em Unix entraram para a computação comercial, os ERP’s ganharam as grandes corporações e o
surgimento da Internet. Não seria
possível o MF conviver com toda essa modernidade. Uma arquitetura e tecnologia que já durará
mais de 25 anos, certametne estava ultrapassada.
. O usuário quer interface gráfica
O windows transformou a exepriencia do usuário na sua interação com o computador. A
interface gráfica e o mouse representavam uma grande evolução na forma de se
usar o computador e representava um forte elemento de usabilidade. Isso não se discute. A interface do MF, que
era o terminal 3270 com fundo preto e
linha de comando texto, passou a ser
chamado de terminal burro.
Isso foi um enorme elemento usado contra o MF. A questão é que os usuários de Unix, que
tambem criticavam o MF pela sua interface, continuavam a usar interface similar
(tela preta) com o editor de text VI , que era extremamente menos
amigável do que o terminal e o editor do MF.
. O Cobol vai acabar
Com o surgimento das linguagens
mais modernas como C, C++ , Java e .NET, que atendiam de forma mais eficiente
as necessidades modernas, pensava-se que o Cobol estaria com os dias contados e
o Cobol estava diretamente associado ao MF.
Mas não foi bem isso que se viu anos mais tarde, o Cobol realmente
perdeu um pouco da força mas não tanto quanto se imaginava e não se vê o seu
fim. Por outro lado, o Java não ficou
tão dominante como se imaginava, principalmente no segmento corporativo.
Surgiram outras linguagens orientadas para aplicações Web como PHP entre
outras, que diluíram o crescimento do
Java.
. Mudança no modelo de desenvolvimento de aplicações
Com a popularização dos micros e
dos sistemas Unix, começaram a surgir aplicativos prontos para essas
plataformas, mas o mesmo não ocorria para o MF, que tinha que enfrentar as dificuldades do
desenvolvimento de aplicativos in-house.
. O Mainframe é caro
O modelo econômico do Mainframe, onde todos os custos são contabilizados, torna
mais aparente o custo da plataforma. Começava-se a falar em TCO (Total Cost of Ownership) e não TCA (Total Cost of Acquisition).
. O Mainframe é proprietário
Para fugir do Mainframe, que era fechado e
proprietário, o mercado correu para Windows e SAP, que eram mais abertos
.
. Faltam
novos profissionais
De fato isso representa um grave problema. Com
o surgimento das plataformas
distribuídas, Unix e x86, as universidades, sempre carentes de recursos,
passaram a adotar essas tecnologias no seu currículo e consequentemente os novos
profissionais entrando no mercado de trabalho traziam consigo esse
conhecimento. As universidades foram
fundamentais na disseminação dos MF nos anos 70 e 80, tanto para sua parte administrativa quanto
para o curriculo. Era necessario
resgatar esse mecanismo, e assim foi
feito com o programa Iniciativa Acadêmica, lançado no início dos anos
2000.
Paralelo a onda do Downsizzing , outras iniciativas ocorreram que contribuíram para a redução do número de instalações Mainframe:
Rightsizing
Vendo a
catastrofe anunciada se materializar, perdendo renda mês a mês no segmento de
Mainframe, e não tendo a contra-partida de suas outras linhas de negócios que equilibrasse
as contas, a IBM surgiu com o termo RIGHTSIZING , ao invés do Downsizing, cujo
objetivo era reposicionar o Mainframe no mercado de computadores, de modo a
preserva-lo no segmento das grandes empresas e deixar os segmentos de medias e
pequenas empresas para a concorrência dos servidores Unix e x86.
É verdade
que o Brasil, por causa da reserva de mercado que ocorreu entre os anos 70 e
90, teve uma penetração exagerada e destorcida dos Mainframe IBM e compatíveis. Como as empresas não podiam importar certos
computadores que lhe fossem mais apropriados para o seu perfil, acabaram
comprando Mainframes disponíveis no país e com
o fim da reserva, poderiam novamente adquirir um modelo mais adequado.
Em outras
palavras, muitas empresas tinham Mainframe mas não deveriam te-lo, o certo para elas
seriam outros computadores de pequeno e médio porte. O Rightsizing seria a forma de corrigir essa
deturpação no uso do Mainframe e por isso se justificava seu abandono por parte das
empresas de determinado porte.
Mas não foi
exatamente isso que se viu no Brasil, nem em outras partes do mundo. O
downsizing realmente corroeu a base instalada de MF. Particularmente no Brasil, em meados dos
anos 90, após o furacão do Downsizing, restaram não mais do que 20% dos Mainframes, comparado com o final dos anos 80.
Outros
fatores
É verdade
que ocorreram outros fatores simultaneamente ao Downsizing que também
contribuíram para a redução da base de Mainframe.
Durante os
anos 90 houve uma grande transformação no setor bancário e no setor de
telecomunicação, setores esses onde o Mainframe tinha grande presença.
O setor
bancário iniciou um processo de consolidação, similar ao ocorrido nos anos
60, onde os grandes bancos de
abrangência nacional adquiriram os bancos menores, reduzindo-se em muito o
número de bancos no país. Esse processo, juntamente com a privatização dos bancos
estaduais, consolidou o setor bancario em poucas instituições.
Somente na área dos bancos estaduais, onde cada estado tinha o seu próprio Data Center com sua
infraestrutura de informática, perderam-se mais que 20 instalações de Mainframe. O Banco do Brasil nessa mesma época
centralizou sua operações em Brasilia, passando de vários Data Centers
regionais para apenas Rio , São Paulo e Brasilia.
No setor de
telecomunicações, o fenômeno foi semelhante.
Com a privatização da telefonia fixa e o fim das empesas estaduais,
reduziu-se o número de empresas restando apenas poucos grupos nacionais.
Novamente perderam-se algumas dezenas de Data Centers nesse processo.
Outsourcing
foi outro fator que contribui. Foi por
volta de meados dos anos 90 que essa tendencia surgiu no mercado de TI, inspirado
na prática do DOWNSIZING empresarial, e motivado
pelo fato ds empresas estarem buscando formas de se livrarem de seus
Mainframes .
Até hoje
existem empresas que fizeram Outsourcing de seus Mainframes nessa época e continuam
executando seus aplicativos de negócio usando os mesmos sistemas e
infra-estrutura de então.
Mas, independentemente dos motivos, o fato é que os anos 90, foram catastróficos
para o Mainframe, que viu a maior parte de seus usuários mudarem de plataforma e quase
realizar as profêssias em torno de sua morte.
No Brasil ,
estimava-se haver cerca de 2000 MF’s instalados no final dos anos 80, incluindo
os compatíveis Hitachi e Futjitsu, representando aproximadamente 1300 empresas.
Somando
tudo
É claro que
muitos dos fatores que sustentavam os argumentos do Downsizing não se
verificaram, surgiram outros fatores que reverteram o cenário funesto que se
apresentava e estancaram a sangria.
O próprio Stewart
Alsop se redimiu de sua falsa profecia em artigo na mesma revista InfoWorld, em
Fevereiro de 2002, reconhecendo o valor do MF.
“It’s clear that corporate customers still like to
have centrally controlled, very predictable, reliable computing systems –
exactly the kind of
systems that IBM specializes in.”
–
Stewart Alsop, February 2002.
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